Conforme visto anteriormente, o Saldo de Tesouraria (T) tem seu comportamento definido pelo resultado do confronto entre as fontes de longo prazo disponíveis do Capital de Giro (CDG) e a necessidade operacional de recursos da Necessidade de Capital de Giro (NCG).
O Efeito tesoura acontece quando a empresa não consegue aumentar o CDG no mesmo ritmo de aumento da NCG.
Quando ocorre um descompasso entre a evolução das fontes disponíveis de longo prazo (CDG) e as aplicações que precisam ser financiadas (NCG), o Saldo de Tesouraria (T) se torna crescentemente negativo, evidenciando uma dependência cada vez mais acentuada dos recursos de curto prazo para o financiamento das atividades da empresa.
Este processo persistente eleva o risco financeiro e se materializa quando ocorre um crescimento significativo e continuado do saldo negativo de tesouraria.
Evidentemente que, a curto prazo, T poderá surgir coma uma alternativa para o financiamento da NCG, desde que limitado a certo montante, tenha perspectivas concretas de ser substituído pelos recursos do CDG ou venha suprir uma necessidade que se prevê será extinta proximamente.
A denominação “Efeito Tesoura” decorre do fato de que, visualizado em um gráfico, o processo que provoca o afastamento das curvas da NCG (aplicações operacionais) e do CDG (fontes de longo prazo) produz o efeito visual semelhante ao obtido pelas duas partes de uma tesoura. Esse espaço, aberto entre as duas lâminas da tesoura imaginária, representa a participação dos recursos financeiros de curto prazo contidos no Saldo de Tesouraria (T), utilizados no financiamento da demanda operacional de recursos (NCG).
A análise do Efeito Tesoura deve focalizar a evolução de T, o que significa analisar sua evolução ao longo do tempo coma uma resultante do comportamento apresentado pelo CDG e pela NCG, ou seja:
O problema básico será assegurar a evolução do CDG de forma compatível com a evolução da NCG, coma forma de se evitar o aparecimento do Efeito Tesoura. Como nosso interesse esta nas variações, devemos preocupar-nos em analisar as causas de variação do CDG.
Lembra-se da definição do CDG:
CDG = Fontes (Passivo) de Longo Prazo – Aplicações (Ativo) de Longo Prazo, ou
CDG= (Exigível a Longo Prazo+ Patrimônio Líquido)-(Realizável a Longo Prazo+ Permanente)
Var. CDG= Var. Fontes de Longo Prazo – Var. Aplicações de Longo Prazo
Var. Fontes de Longo Prazo = Lucro retido + Var. Exigível LP + Aumento de Capital.
Var. Aplicações de Longo Prazo = Var. Realizável LP + Novos investimentos – Desinvestimentos -Var. Depreciação acumulada.
Lembra-se que podemos dividir conceptualmente “Novos investimentos” em duas partes: investimentos de manutenção e investimentos de expansão. Os investimentos de manutenção vão compensar a redução de valor devida à obsolescência e à exaustão da vida útil de um ativo. Os investimentos de expansão são aqueles necessários para crescer. Depreciação acumulada aumenta com a despesa de depreciação do período. A despesa de depreciação é um abono pela deterioração e obsolescência de ativos permanentes baseado em sua vida útil estimada. Podemos esperar que o valor dos investimentos de manutenção seja igual às despesas de depreciação do período e escrever:
Investimentos de Expansão= Novos investimentos – Desinvestimento -Var. Depreciação acumulada.
Var. Aplicações de Longo Prazo = Var. Realizável LP + Investimentos de Expansão.
Finalmente, a variação do CDG é aproximativamente igual a:
Var. CDG= Lucro retido + Var. ELP – Var. RLP + Aum. de Capital + Invest. de Expansão.
A variação de CDG deve ser suficiente para financiar a variação de NCG criada pela evolução das vendas em conjunto com o ciclo financeiro, evitando que o Efeito Tesoura se desenvolva.
Var. T = Var. CDG – Var. NCG
Var. T = Lucro retido + Var(ELP-RLP) + Aum.Capital + Invest de Expansão – Var. NCG
Para evitar o Efeito Tesoura, o lucro retido tem de ser suficiente para financiar, pelo menos, os aumentos da NCG. Esta é uma regra ditada pela experiência. A ela nos prendemos por quatro motivos:
As principais fontes de distúrbios na situação financeira da empresa e que podem ocasionar o desenvolvimento do Efeito Tesoura podem ser decorrentes dos seguintes fatores[1]:
[1] VIEIRA, Marcos Villela. Administração estratégica do capital de giro. São Paulo: Atlas, 2005. 326 p..